O peso de existir em meio ao colapso

Eu gostava da vida mais do que ela merecia. Não porque fosse generosa comigo, nem porque me oferecesse dias radiantes ou momentos inesquecíveis. Gostava dela porque existia, e isso, por si só, já parecia suficiente.

Amava a vida até nos dias nublados, quando o silêncio pesava e os pensamentos rodavam em círculos. Gostava da rotina que eu criava, às vezes com promessas de novidade. Nunca pedi mais do que o instante seguinte, mesmo sabendo que ele poderia vir vazio.

Hoje, tanto faz. A vida segue, mas a beleza que um dia bastava parece sufocada pelo que a humanidade insiste em construir, ou destruir. É difícil amar o mundo enquanto se compactua, mesmo sem querer, com as desgraças que a espécie humana semeia. As belezas se misturam ao caos, e o privilégio de sentir, agora virou um peso.

Se a vida me deixar, falta não fará. Não por rancor ou desalento, mas porque o pacto silencioso entre o amor que tinha pela vida se quebrou. Amei-a mais do que merecia, mas talvez tenha sido só ingenuidade achar que bastava amar para pertencer.

Eu olho para o mundo e me pergunto: como foi que chegamos aqui? Como foi que nos tornamos essa desgraça que destrói tudo o que toca? Cada dia que passa, a humanidade me convence ainda mais de que talvez nunca tenhamos sido dignos deste planeta.

Há uma podridão entranhada em nossa espécie, uma crueldade escancarada que se manifesta em cada gesto egoísta, em cada exploração, em cada destruição que provocamos sem piscar.

Criamos fábricas de sofrimentos. Esprememos animais em jaulas minúsculas, forçamos vidas a serem máquinas de produção de carne, leite, ovos, pele, entre outras coisas que nem deveriam ser nossas. Cegamos beagles em laboratórios, despedaçamos criaturas ainda conscientes porque eficiência e lucro valem mais do que dor e agonia. Nós os torturamos, os violentamos, e tudo isso para que possamos saborear um prato ou vestir uma roupa que sequer precisamos. E tudo isso com o ar de quem acredita que o mundo nos pertence.

E nós, humanos, colonizamos, escravizamos, destruímos culturas inteiras em nome de impérios, poder, riquezas e religiões. Espalhamos a miséria e fechamos os olhos para aqueles que morrem de fome enquanto desperdiçamos toneladas de comida.

Vendemos promessas de felicidade enlatada enquanto drenamos a alma de quem não consegue mais correr nessa corrida exaustiva pelo sucesso.

As cidades crescem como tumores, sufocam qualquer traço de natureza, substituímos árvores por concreto e chamamos isso de progresso.

A ironia é que nem mesmo o nosso próprio fim parece nos abalar. A destruição do meio ambiente avança diante dos nossos olhos, mas seguimos queimando, poluindo, envenenando cada gota de água e cada sopro de ar. Criamos um inferno na Terra e chamamos de civilização.

Eu olho para isso tudo e me sinto incapaz de permanecer aqui, fico na espera de que seja breve a minha partida, mas esse dia parece nunca chegar, como se tivesse que pagar por pecados que não cometi.

Não tenho sangue frio o suficiente para me anestesiar diante desse espetáculo de horror. Eu não consigo assistir a tudo isso e seguir vivendo como se fosse normal. Porque não é!!!

Mas a gente normaliza tudo daqui uns cinco minutos…

O peso de existir em meio ao colapso

Sinto repulsa e vergonha de pertencer à espécie humana!!!

Eu