Address
304 North Cardinal
St. Dorchester Center, MA 02124
Work Hours
Monday to Friday: 7AM - 7PM
Weekend: 10AM - 5PM
O ritual do cacau sagrado
Antigamente, as cerimônias do cacau nas Américas estavam presentes em praticamente todas as cerimônias importantes. Descoberto originalmente pelos Olmecas em 1500 a.C. e usado como um alimento básico nas culturas maia e asteca durante séculos, o cacau teve um lugar nesses impérios como uma planta sagrada, de elite e ritualística.
Presente na mitologia asteca, o cacau sagrado era frequentemente usado em cerimônias de sacrifício para levantar o ânimo dos que logo seriam sacrificados. A mitologia asteca ainda afirma que Deus criou o homem a partir do milho e do cacau, entre outras plantas trazidas das “Montanhas do Sustento”. Mesmo na mitologia maia a importância do cacau permanece com o Deus do milho sendo gerado de uma vagem de cacau.
Na mitologia maia, a medicina do cacau também é um dos instrumentos usados para criar a humanidade, e até se afirma que os deuses maias sangraram nas vagens do cacau, entrelaçando o cacau com seu sangue. Como oferenda de natureza sagrada aos deuses, o cacau teve uma importância em ambas as culturas que o relaciona tanto aos estados mentais joviais como uma parte essencial da constituição humana.
Longe de ser apenas uma mercadoria religiosa, o cacau era considerado sagrado e frequentemente usado para vários fins medicinais. As flores eram citadas como remédio para o cansaço, enquanto as sementes eram usadas em conjunto com outras plantas para ajudar a aliviar a febre. Com a chegada do cacau na Europa, muitos novos usos médicos para o cacau foram descobertos. Esses usos frequentemente empregavam o cacau para melhorar os problemas digestivos, como nutriente para tratar pacientes anormalmente magros ou fracos e como estimulante do sistema nervoso para melhorar o humor e a virilidade.
Diversas culturas mesoamericanas antigas desenvolveram suas próprias cerimoniais de cacau, com distintos elementos, distintos deuses, distintas formas de preparação, seja por meio de bebidas, seja por meio de alimentos ingeridos, utilizando-se de diferentes partes da planta, sobretudo as sementes do cacau.
Não encontramos nenhum contexto histórico sobre como os maias realizavam uma cerimônia de cacau. Dependendo da estação, do ciclo da lua e do facilitador da cerimônia, os procedimentos usados para criar uma experiência espiritual variam.As cerimônias modernas do cacau nasceram das mesmas ideias das antigas culturas, sendo ferramentas de rejuvenescimento e autodescoberta. As culturas antigas, embora continuamente desaparecendo no mundo moderno, fornecem uma visão de uma vida mais interligada com a natureza e o espírito.
A deusa do chocolate / Cacau teve origens humildes, mas honrosas como uma deusa maia. Chamada Ixcacao, ela era uma antiga deusa da fertilidade, uma deusa da terra em uma sociedade matriarcal onde colher plantações e fazer com que todos fossem alimentados eram atividades realizadas pelas mulheres. Acabar com a fome e garantir a segurança e a proteção do povo era uma responsabilidade divina.
O chocolate vem do cacau. Para os maias o cacaueiro era sagrado e o nome cacau significa “comida dos deuses”. Já, os astecas do México central atribuíram a criação dos grãos de cacau ao seu deus Quetzalcoatl que, como diz a lenda, desceu do céu carregando um cacaueiro roubado do paraíso. Assim como os maias, os astecas também entendiam que o cacau era um fruto sagrado, repleto de propriedades amorosas e especiais e, por isso, cultuavam o espírito do cacau.
Já nos dias atuais, embora não direcionadas a esses deuses ancestrais, envolvem as propriedades meditativas do cacau, relaxando o corpo e limpando a mente para momentos de pura auto-reflexão que se seguirão.
Uma das formas antigas de preparo do ritual do cacau sagrado consiste em beber cacau. Começa-se triturando e esmagando entre 25 à 50 gramas de grãos de cacau cru com um pilão até obter-se uma espécie de pasta de cacau homogênea. Em seguida, é adicionado 200ml de água quente, mel à gosto, podendo ser adicionadas especiarias como canela, cardomomo, gengibre, hortelã, melissa e quaisquer especiarias que o preparador sentir-se confortável com elas. Tudo é misturado até obter-se uma bebida homogênea e quente, depois basta beber o cacau. Quanto mais puro é o cacau usado mais completa é a experiência trazida pelos flavonóides, anandamida, teobromina e compostos presentes nas sementes de cacau. Evita-se o uso de cacau em pó comercial pois o processo de torrar e refinar elimina a maioria dos benefícios dos cacau puros.
O ritual do cacau pode ser feito em grupos ou de forma solitária, não há regras rígidas. Alguns usam para meditar, sentam-se e bebem uma dose cerimonial três manhãs consecutivas e trabalham com isso para aprofundar suas práticas de meditação. Outros produzem chocolate caseiro com óleo de coco e mel, e por aí vai.
O cacau não é um psicodélico, pode-se considerá-lo um ligeiro euforizante de conexão profunda, porém, um ritual de cacau não é realizado com o objetivo de uma “trip” propriamente dita. As cerimônias de cacau são, ancestralmente, facilitadoras da autorreflexão e do despertar espiritual, permitindo que alguém considere quem é, analise suas esperanças, desejos e sonhos e deixe o passado para trás permitindo crescer a partir dele e construir um futuro melhor para si e para os outros.
Apesar de não ser um psicodélico, o estudo das antigas culturas mesoamericanas revela que o cacau tem uma história estabelecida de consumo em combinação com outros alimentos ritualísticos, especialmente plantas psicoativas e fungos. Em cerimônias de cogumelos mágicos, os astecas combinavam cogumelos mágicos psilocybe cubensis com cacau para ser servido como uma bebida mista de psilocibina e cacau. Em outros casos, os cogumelos eram comidos sozinhos e seguidos de cacau para amplificar os efeitos psicoativos, pois o cacau contém inibidores da MAO que previnem a degradação da psilocibina e modulam neurotransmissores como a serotonina.
Pensou-se que as qualidades encontradas no cacau ajudam a potencializar e guiar o espírito de experiência do cogumelo. Os efeitos sinérgicos do cacau e dos cogumelos tornaram-se uma cultura desenvolvida durante milhares de anos. Nos tempos modernos, o ritual cogumelo-cacau segue intacto no México. A famosa visita de Gordon Wasson à Maria Sabina no México, em 1955, envolveu a recepção de Wasson com uma bebida de cacau (alimento dos deuses) com teonanacatl (carne dos deuses). As experiências de Wasson com o cogumelo psicodélico foram publicadas posteriormente em 1957 e ajudaram a inaugurar a era psicodélica.
Por: KosmicKombi
As informações contidas aqui são utilizadas apenas para fins informativos gerais. Os dados nutricionais e as declarações desta página são projetados somente para fins educacionais e de pesquisa, e não podem substituir o acompanhamento nutricional de um profissional. Se você tem alguma dúvida ou preocupação sobre sua alimentação ou problemas de saúde, consulte seu médico ou um nutricionista.
Posts Relacionados
Nenhum post encontrado!